
SÃO BENTO DO SUL. Na próxima segunda-feira (19), às 19h30, a Câmara Municipal de Vereadores de São Bento do Sul será palco de um evento importante: a Assembleia Geral de fundação das associações Convivendo com Diabetes — uma voltada a São Bento do Sul e Campo Alegre, e outra à cidade de Rio Negrinho.
A proposta das entidades é oferecer acolhimento, informação e e a pessoas com diabetes tipo 1 e seus familiares, promovendo qualidade de vida e esclarecimento sobre uma condição crônica que ainda carrega muitos mitos.
Para compreender melhor o que é o diabetes tipo 1, seus sintomas, riscos e formas de manejo, conversamos com a Dra. Andrea Cristina Batista Betkowski Duvoisin, médica generalista com ênfase em endocrinologia e mais de 20 anos de experiência no atendimento a pessoas com diabetes.
Nossas Notícias – O que é a diabetes tipo 1?
Dr. Andrea: A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune crônica em que o sistema imunológico, por erro, ataca e destrói as células beta do pâncreas — que são justamente as responsáveis pela produção de insulina, o hormônio essencial para transportar a glicose (açúcar) do sangue para dentro das células, onde ela será usada como energia.
Sem a insulina, a glicose se acumula na corrente sanguínea, levando a um quadro de hiperglicemia (glicose alta no sangue). Ao contrário do diabetes tipo 2, que geralmente tem relação com resistência à insulina, a diabetes tipo 1 está relacionada à falta total ou quase total de produção de insulina.
Ela costuma surgir ainda na infância ou adolescência, mas também pode aparecer em adultos. O tratamento é feito por meio da istração diária de insulina, alimentação equilibrada, atividade física regular e monitoramento constante da glicemia. É uma condição que exige atenção constante, mas que pode ser perfeitamente controlada com acompanhamento adequado.
Nossas Notícias – Como ela se manifesta?
Dr. Andrea: A diabetes tipo 1 geralmente se manifesta de forma rápida e aguda, ao longo de dias ou poucas semanas. Isso acontece porque a destruição das células do pâncreas responsáveis pela insulina ocorre de maneira progressiva, até que o corpo já não consegue mais manter níveis adequados do hormônio — e os sintomas se tornam visíveis.
Muitas vezes, o diagnóstico acontece após um episódio de emergência, como a cetoacidose diabética, um estado grave causado pela falta de insulina, que exige internação imediata.
É importante estar atento aos sinais iniciais e buscar orientação médica logo que eles aparecem, pois o diagnóstico precoce salva vidas e evita complicações.
Nossas Notícias – Quais são os sintomas?
Dr. Andrea: Os sintomas da diabetes tipo 1 são intensos e se instalam rapidamente. Os mais comuns incluem:
Sede excessiva (polidipsia): sensação constante de boca seca, mesmo após beber água.
Vontade frequente de urinar (poliúria): o corpo tenta eliminar o excesso de glicose pela urina.
Fome exagerada (polifagia): a glicose não entra nas células, e o corpo interpreta isso como falta de energia.
Perda de peso rápida e sem explicação: mesmo comendo bem, o corpo queima gordura e massa muscular.
Cansaço extremo: a energia não chega às células, e a pessoa se sente esgotada.
Visão embaçada: o excesso de glicose afeta os vasos dos olhos.
Mau hálito (hálito cetônico): sinal de cetoacidose, com cheiro adocicado ou semelhante a frutas.
Náuseas, vômitos, dor abdominal: em casos mais graves.
Importante: quando esses sintomas aparecem, o ideal é procurar um médico o quanto antes. Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as chances de iniciar o tratamento com segurança e evitar complicações graves.
Nossas Notícias – Qual a importância de falar mais sobre?
Dr. Andrea: Falar sobre diabetes tipo 1 é essencial para combater o preconceito, reduzir diagnósticos tardios e salvar vidas. Quanto mais cedo for identificada e tratada, menor o risco de complicações. Além disso, informação gera empatia: a pessoa com diabetes não precisa lidar com olhares de julgamento, mas com e e compreensão.
Nossas Notícias – Como outras pessoas podem ajudar, caso encontrem alguém em crise?
Dr. Andrea: Se a pessoa estiver em crise de hipoglicemia (baixa de glicose), ela pode apresentar confusão mental, suor frio, tremores e até desmaio.
O ideal é oferecer imediatamente uma fonte de açúcar de rápida absorção:açúcar diluída em água, suco sem ser diet ou mel (se estiver consciente).
Se a pessoa estiver desacordada, não ofereça nada por via oral. Nessa situação, procure atendimento médico urgente ou acione o SAMU.
Se a crise for de hiperglicemia grave, com respiração acelerada, hálito cetônico e sonolência, também é necessário buscar atendimento de urgência imediatamente.
Nossas Notícias – Como é feito o diagnóstico da doença?
Dr. Andrea: O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais de sangue, como a glicemia de jejum, hemoglobina glicada (HbA1c), e em alguns casos, dosagem de autoanticorpos específicos e peptídeo C.
Em geral, os níveis de glicose estão muito elevados no momento do diagnóstico e o paciente já apresenta sintomas evidentes.
Nossas Notícias – Qual a importância do monitoramento da glicose, e com que frequência?
Dr. Andrea: O monitoramento da glicose é fundamental no diabetes tipo 1. Ele permite que o paciente ajuste as doses de insulina, previna episódios de hipo ou hiperglicemia e mantenha a glicemia mais estável.
Hoje, contamos com tecnologias como sensores de glicose intersticial, que trazem informações cruciais sobre o controle glicêmico nas 24h e mais segurança no dia a dia a quem o usa ( previsibilidade das hipoglicemias através dos alarmes).
A frequência do monitoramento depende do plano terapêutico, mas em geral deve ser feito várias vezes ao dia, especialmente antes e depois das refeições, atividades físicas ou quando há sintomas.