Kelen Sbolli é adestradora profissional de cães e proprietária da Vita Canis. Atende em Curitiba (PR) e em Rio Negrinho (SC). Escreve para o Nossas Notícias todos os domingos. Contatos com a colunista podem ser feitos pelo (41) 9.99972754ou pelo [email protected] *************************************** Do adestramento feito à força e com agressividade para o adestramento positivo, feito com estímulos e brincadeiras, já se aram algumas décadas. Nosso país, ainda atrasado, apresenta alguns treinadores que utilizam a força como base de seu treinamento. Mas tudo caminha para o desenvolvimento, até mesmo no Brasil. Um novo método de adestramento chega dos USA e Europa Depois do adestramento positivo já estar consagrado no Brasil, agora começa a chegar dos USA e da Europa, um método de treinamento cuja característica é a dinâmica entre o cão e a sua rede familiar. Aprendizado pela sensação e pela emoção Neste método o cão não aprende só pelo condicionamento clássico e operante, mas aprende principalmente pela sensação e emoção. Os cães, como todos sabem, são animais de matilha, equipe ou família. Uma família é baseada em sentimentos. Os sentimentos são baseados em um desejo comum em torno do qual o grupo pode se alinhar e sincronizar. Equipe e recompensa Fazer parte de uma equipe ou família não é ter um trabalho para fazer ou trabalhar por uma recompensa. A família permite que seus membros coloquem seus corações em seu trabalho. Adestramento moderno O adestramento moderno é sobre identificar o que os cães querem e precisam e como alinhar e sincronizar o cão e o dono como uma família. Segundo Kevin Behan, um especialista norte americano em comportamento canino, a consciência de um cão deriva de sua participação em uma “vontade” mais ampla, desencadeada pela emoção e forjada pelos sentimentos. A emoção, a natureza e a sensibilidade compõem uma “inteligência em rede” a qual todos nós pertencemos, inclusive os cães. Quando observamos um cão, estamos observando sua rede emocional Desta maneira, quando observamos um cão, estamos na verdade observando a rede emocional à qual ele se encontra ligado. Seu comportamento é uma manifestação e expressão de emoções e sentimentos que ele recebe das pessoas às quais está ligado. Sendo mais objetivo ainda, os cães são um reflexo da dinâmica emocional do dono e da família. Casa com mais de um cachorro Uma observação particular em quase 10 anos de adestramento, é que em toda casa onde há mais de um cão, terá sempre um deles mais permeável e depositário das emoções daquela família, trazendo para si as dores, as angústias e os emaranhados de emoções que seus membros não conseguem resolver ou às vezes que nem sabem racionalmente que existem. Trabalhando o comportamento e dinâmica da família também Daí a necessidade dentro de um adestramento sério, trabalhar não só os comandos e comportamento do cão, mas o comportamento e dinâmica da família ou da pessoa mais próxima a ele. Atualmente, implementamos em nossa empresa um trabalho adicional onde observamos, após uma avaliação sistêmica familiar (a isso entendemos família+cão) traços de possível ansiedade e agressividade por exemplo. Uma psicóloga trabalha a família ou dono mais próximo enquanto o adestrador trabalha o cão. Em vários atendimentos realizados os s dos clientes foram extremamente positivos. Exemplo positivo Um exemplo bem interessante foi de uma cliente que reclamava que seu cão latia incessantemente num determinado período do dia, o qual que correspondia à chegada dos seus vizinhos. Um fato relevante é que eles haviam se mudado a poucos dias para esta nova casa. Ansiedade da dona Em uma análise feita pela nossa psicóloga levantou-se a seguinte hipótese diagnóstica: a ansiedade da dona do cão aumentava à medida que se aproximava o horário da chegada dos vizinhos. Como ela queria causar uma boa primeira impressão para os vizinhos (os quais possuíam muitos gatos), ela temia que seu cão latisse em demasia e começasse uma crise na vizinhança e a desaprovassem no condomínio. Medo de ser criticada O medo de ser criticada pelos vizinhos lhe gerava um estado ansioso. O cão sendo muito ligado a ela, conseguia fazer a leitura de sua rede de emoções relacionando o aumento da ansiedade de sua dona com a chegada dos vizinhos. Protegendo a dona Como dissemos anteriormente, o cão não possui uma habilidade racional, mas intensamente emocional. Sua percepção foi relacionar a presença dos vizinhos como algo ruim para sua dona e na tentativa de protegê-la desta ameaça ele latia intensamente para afastar “aquilo” que causava tanto transtorno emocional e energético em sua dona. Consciência da dona Uma vez que ela tomou esta consciência e trabalhou sua ansiedade e mudou o foco, o cão automaticamente parou de latir. Este é apenas um resumo de um atendimento. Várias técnicas foram utilizadas pela nossa psicóloga para diminuir a ansiedade, bem como uma psico-educação para ela e seu esposo, diminuindo o hiperfoco. Em contrapartida, o adestrador trabalhou a desenssibilização desta situação no cão para que não ficasse nenhum comportamento aprendido. Problemas acabaram Atualmente, há relatos da família que não há mais problemas neste sentido, podendo inclusive a família se ausentar de casa por várias horas sem o cão causar nenhum transtorno. Hoje em dia trabalhar problemas comportamentais dos cães apenas utilizando técnicas tradicionais, na maioria das vezes não solucionará este problema, uma vez que a família na maioria das vezes é responsável pelos sintomas do cão. Cão é uma esponja Neste caso, o cãozinho da família serve como uma esponja/sintoma das emoções da família. Esta recebendo ajuda, o cão automaticamente se beneficiará, cessando seus sintomas como latidos, medos, indisciplina, comportamentos estereotipados, etc.]]>